Esse capítulo deve ser lido somente depois da leitura de “DISFUNÇÕES MICCIONAIS NÃO NEUROGÊNICAS”.
Chamamos de “DISFUNÇÕES MICCIONAIS NEUROGÊNICAS” as alterações do ciclo miccional que ocorrem em função de uma alteração da inervação do sistema urinário inferior (bexiga e uretra). Todo organismo existe porque há uma nutrição sanguínea que é levada pelas artérias (levam o sangue e nutrientes) e que é devolvida ao coração pelas veias (devolvem ao coração aquilo que não foi aproveitado). Da mesma forma como existem artérias e veias, os nervos são indispensáveis para que determinada parte do corpo possa ter uma atividade sensitiva ou motora (sentir ou mexer). Os músculos do corpo se movimentam porque são providos de nervos, que transformam uma atividade elétrica que vem do cérebro em atividade mecânica. “Penso em dar um soco em alguém, e, em seguida, meu corpo realiza o ato”.
Como vimos no capítulo sobre disfunções miccionais não neurogênicas, a bexiga, ao acomodar urina sob baixa pressão durante um período, e depois eliminar a urina, quando atinge a plenitude de sua capacidade, realiza o que chamamos de ciclo miccional.
Os primatas aperfeiçoaram o sistema nervoso involuntário, comumente conhecido como sistema nervoso autônomo. Imagine o início da transformação dos símios (macacos) em humanoides (nós). Os trabalhos de antropologia mostram que os primeiros humanoides surgiram quando as condições ambientais se tornaram mais perigosas. As árvores se tornaram mais escassas, obrigando os indivíduos a caminhar. As más condições levaram à bipedação (andar somente sobre as pernas), para que os olhos ficassem em situação mais elevada e atenta aos perigos. A descoberta do fogo, levou à cocção dos alimentos, a uma digestão mais rápida e realizada nos segmentos mais proximais do tubo digestivo, e a um maior aporte de oxigênio ao cérebro. Éramos humanos!!!
Para que pudéssemos sobreviver era importante que desconfiássemos dos estranhos, que nos preparássemos para a fuga quando nos deparássemos com indivíduos mais fortes do que nós, que desenvolvêssemos um sistema nervoso capaz de relaxar quando estivéssemos tranquilos e longe dos perigos, e capaz de nos preparar para a fuga quando necessário fosse.
Esse sistema nervoso involuntário, foi classificado pelos cientistas em simpático e parassimpático. O simpático seria aquele sistema que nos prepararia para a fuga, e o parassimpático, aquele sistema da tranquilidade, da vida plena.
Se pensarmos na bexiga, e mesmo no intestino, podemos muito bem dizer que estamos preparados para fugir, quando o nosso músculo da bexiga (e do intestino) não vai se contrair (quem vai querer urinar ou evacuar quando o leão está se aproximando), e quando o nosso esfíncter nos mantem prontos para não urinar e não evacuar (apesar de muita gente pensar o contrário).
Resumamos nosso raciocínio da seguinte forma: no período de armazenamento de urina temos um sistema nervoso que funciona relaxando o músculo da bexiga e mantendo o esfíncter contraído. Esse sistema é chamado sistema nervoso simpático. No período da micção (urinar), temos um sistema nervoso que funciona contraindo a bexiga e relaxando o esfíncter. Esse sistema é chamado de sistema nervoso para simpático. Para nos lembrarmos de tudo podemos dizer que, urinar não é simpático (é para simpático).
Quanta baboseira. Na verdade, trata-se apenas de lembrar, que o sistema nervoso é muito importante para que possamos urinar adequadamente. Uma criança com mielomeningocele, tem a inervação do intestino e da bexiga alteradas. Uma criança com um tumor de medula tem a inervação do intestino e da bexiga alteradas. Uma criança com o ânus fechado pode ter a inervação do intestino e da bexiga alteradas.
Todos os cuidados que mencionamos no capítulo de “disfunções miccionais não neurogênicas” devem ser tomados pelas crianças portadoras de “disfunções miccionais neurogênicas”. Chamamos atenção especial para o capítulo de cateterismo vesical intermitente. Todos devem ler.