A bexiga funciona como um reservatório que armazena a urina proveniente dos rins. Ela tem uma forma quase que esférica e assim obedece à fórmula de La Place, que diz que a Pressão Interna do fluido (urina) é diretamente proporcional à tensão nas paredes do órgão e inversamente proporcional ao quadrado do raio do órgão. Pode-se assim dizer que a bexiga acomoda a urina aumentando o volume do seu conteúdo quase sem aumentar a pressão. À essa capacidade da bexiga dá-se o nome de complacência.
Chamamos de refluxo vesicoureteral (RVU) quando há passagem retrógrada de urina da bexiga para os ureteres. Esse refluxo será passivo quando ocorrer durante o enchimento vesical e ativo quando ocorrer somente no momento da micção.
Durante muito tempo acreditou-se que o refluxo fosse causado por um defeito no óstio ureteral, que seria insuficiente para evitar a passagem retrógrada de urina. Hoje sabe-se que provavelmente o RVU é causado por uma distribuição inadequada da pressão de todo o sistema urinário; o refluxo primário seria, dessa forma muito raro ou mesmo inexistente.
Existem dois picos de incidência do RVU: no recém nascido e na idade pré-escolar. O RVU do recém nascido é mais frequente nos meninos, é de auto grau (grau IV ou V), e o diagnóstico é, em geral, realizado no período antenatal, através da ultrassonografia. Nesses casos observa-se uma hidronefrose de grau variável, mudando assim a dilatação das cavidades ureterais e renais de um exame para outro. Trata-se de um refluxo em que existem altas pressões de armazenamento urinário e altas pressões de micção. Provavelmente existe uma alteração da parte mais baixa da bexiga, o que faz com que os alfabloqueadores (doxazosina) sejam o tratamento mais recomendado. Devem-se evitar intervenções anti-refluxo ou injeção de substâncias no leito ureteral, pois a doença é muito provavelmente do colo vesical. Se o tratamento farmacológico não funcionar a intervenção cirúrgica a se realizar é a vesicostomia. Já o RVU que ocorre na idade pré-escolar é mais frequente nas meninas, que geralmente além de infecções urinárias repetidas também têm constipação intestinal. Essas meninas apresentam o que se convencionou chamar de bexiga hiperativa, e o uso de anticolinérgicos (oxibutinina) é o tratamento de escolha.
Como visto existem pouquíssimas indicações cirúrgicas para o tratamento do refluxo, e somente um Urologista Pediátrico experiente pode decidir adequadamente qual o melhor tratamento a ser proposto para cada criança.
Figura 1. O aparelho urinário pode ser visto: rins, ureteres e bexiga. Normalmente a urina vai dos ureteres para a bexiga durante o enchimento e da bexiga para a uretra quando a pessoa urina. Refluxo é quando a urina vai da bexiga para o ureter (caminho retrógrado).
Figura 2. O contraste (branco) foi introduzido na bexiga através de uma sonda e refluiu para o ureter direito. Refluxo grau V seus clientes
Figura 3. Diferentes graus de refluxo. Grau I – urina volta para o ureter sem atingir o rim. Grau II – urina volta para o ureter e para o rim sem dilatar e nem deformar os cálices. Grau III – urina volta para o ureter e para o rim provocando dilatação dos cálices. Grau IV – urina volta para o ureter e para o rim provocando dilatação e deformação dos cálices. Grau V – dilatação importante do ureter e dos cálices